quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sobre o mito da integração brasileira

Li muitos comentários acerca da declaração explícita de preconceito contra os nordestino(a)s - coletivo do qual faço parte - e percebi que a maioria dos posicionamentos acerca do fato se limitam a criticar a autora do texto e/ou a exaltar as qualidades que esse povo do lado de cá do Brasil tem. Senti falta, no entanto, de uma análise mais profunda da questão, qual seja a de colocar em pauta a necessidade de se desconstruir um mito que há muito faz parte da realidade brasileira: o da cordialidade, da solidariedade e integração. A jovem, autora da infeliz frese, fez apenas o que milhões de brasileiro(a)s não têm coragem de verbalizar, mas o demonstram com atitudes cotidianas.

O Brasil, embora seja um país maravilhosamente diverso, não é o lugar que pode ser classificado como integrado, no qual a cordialidade reina. Talvez, no entanto, o excesso de ufanismo acabe fechando os olhos e ouvidos de muita gente, que prefere desconsiderar os inúmeros conflitos existentes em nossa sociedade - como o racismo, a homofobia, o bairrismo, entre outros - que não nos diferem de outros povos.

Quantas vezes vemos pessoas com atitudes preconceituosas em relação a homossexuais, a transsexuais, a gordo(a)s, a baixinho(a)s, a moradore(a)s de periferia, a negro(a)s. Aqui na cidade de Salvador já está mais que provado, por exemplo, o preconceito sofrido por pessoas oriundas de determinados bairros ao pleitearem um posto de trabalho. E não é só isso. Basta olharmos, também, as praias do litoral norte soteropolitano para notarmos a segregação que há, ainda que insistamos em nos considerar integrados...

Mas a prova de que o Brasil não é harmonioso não pára por aí. O que dizer, por exemplo, do racismo no Ceará, ou da maneira como empregado(a)s doméstico(a)s são tratado(a)s em grande parte de lares brasileiros onde trabalham - muito próximo do tratamento dispensado aos escravizado(a)s?

Portanto, fazemos parte de um país não tão maravilhoso assim como muitos o querem. Ainda temos muito o que aprender em termos de integração. O texto dessa estudante na Internet somente comprova este fato. A moça, a quem considero infeliz, apenas expressou, de forma direta, o que muito(a)s não têm coragem de fazer; ela simplesmente pecou por haver sido “politicamente incorreta”.

Para finalizar, creio que este episódio poderia ser utilizado para abrir um debate amplo que exponha essas questões, a fim de que não mais as camuflemos sob o discurso da integração/cordialidade brasileira.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma Rousseff, gênero e qualidade de governo

Muitos são os discursos que supervalorizam a eleição de Dilma Rousseff à Presidência da República Federativa do Brasil pelo fato de ser a primeira mulher a ocupar o referido cargo. A despeito de não se poder negar a representatividade simbólica desse fato, visto que a questão de gênero é um problema forte – inclusive não só no Brasil, mas no mundo inteiro –, é importante pontuar, no entanto, que o fator gênero - como também o racial - não define a qualidade de um governo.

Lembremo-nos da “dama de ferro” Margareth Thatcher, a primeira mulher a ocupar o cargo de Primeira-Ministra do governo britânico (1979). Entre outras ações reprimiu, de forma violenta, inúmeras greves. E, juntamente como o presidente estadunidense Ronald Reagan, é conhecida como aquela que assentou as principais estrutura do neoliberalismo, pouco se importando com as consequências que isso traria para a sociedade britânica e mundial, inclusive as hordas de desempregado(a)s (fala-se em 3 milhões de trabalhadore/a/s no Reino Unido).

O mesmo pode-se dizer com respeito ao primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, quem suscitou em muito(a)s ingênuo(a)s a esperança de uma nova postura estadunidense – tanto interna como externamente. Ainda que um negro na Casa Branca represente avanço simbólico referente às questões raciais – principalmente naquele país - , a eleição de Obama não passou disso. Vide a permanência das tropas invasoras do Iraque e do Afeganistão, as medidas totalmente neoliberais para “solucionar” a crise econômica (injetando dinheiro público para salvar capitais privados), etc..

Portanto, o gênero ou a raça não constituem fatores determinantes dos rumos que um governo assumirá - seja liberal, conservador, progressista... Mas a visão de mundo, de país, de sociedade que o(a) governante tenha e, consequentemente, os projetos de governo por ele(a) desenvolvidos. Melhor dizendo, os resultados da operacionalização desses projetos.

Nenhuma especulação dará conta de responder se a presidente Dilma Rousseff será ou não uma boa governante, muito menos considerando a questão de gênero. Somente no curso da administração e após sua finalização é que a sociedade e os analistas políticos poderão ser capazes de avaliar e mensurar os resultados do referido governo, concluindo se, de fato, corresponderam ou não aos anseios da maioria que o escolheu.

sábado, 16 de outubro de 2010

Dilma, Serra e jornalistas em relação ao aborto

Na política contemporânea é condição sine qua non, entre outras coisas, que os atores que representam a instância política joguem com as estratégias discursivas com a finalidade maior de construir o consenso. Par aisso, em grande medida buscam parecer dizer a verdade, conforme assinala Patrick Charaudeau. O debate em torno da manutenção ou não da criminalização do aborto na sociedade brasileira, travado entre os candidatos Dilma Rousseff e José Serra, com o auxílio dos meios de comunicação, é um exemplo bastante emblemático desta questão.

As discussões relativas ao aborto e outras polêmicas se inserem em debates maiores sobre as inúmeras mazelas que acometem a vida societária brasileira. O debate sobre criminalização ou não do aborto passa, sobretudo, por questões inerentes ao acesso à educação, à saúde, às condições dignas de sobreviência dos milhões de cidadãos e cidadãs deste país e, portanto, não deve ser colocado de maneira marginal, como vem sendo feito pelos candidatos à Presidência da República e fomentado pelos meios de comunicação.

Dilma Rousseff e José Serra, ao pleitearem o cargo de dirigente máximo da nação brasileira necessitam discutir amplamente com a sociedade os pontos que consideram cruciais e que deveriam constar dos seus respectivos programas de governo, submetendo-os à apreciação da sociedade brasileira, particularmente do eleitorado, abandonando os recursos de simulação e espetacularização que apenas contribuem para banalizar um processo tão sério quanto o de escolha de um(a) dirigente de Estado.

Os jornalistas, por sua vez, deveriam fazer valer o papel social que lhes cabe, suscitando a discussão dessas questões mais amplas e, dessa forma, oportunizando à sociedade refletir acerca das proposições de cada um dos candidatos, para assim nortear a sua escolha. Ao contrário, contribuem significativamente para o esvaziamento de discussões relevantes e realizam aquilo que Gilles Lipovetsky diz quando afirma que, “adotando um formato espetacular, o discurso político se torna menos pesado e aqueles que não se interessam por ele podem encontrar algum interesse, ainda que seja no político, alimentado, entre outras coisas, pelo ‘show do homem na arena’”. Lamentável!!!!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Estou cansada

Hoje recebi mensagem enviada por um colega de trabalho, que me inspirou a escrever o texto a seguir.

Estou cansada dos discursos sofistas; estou cansada de governos cuja meta é satisfazer a avidez de lucro por parte dos banqueiros; estou cansada da hipocrisia de governos que constroem universidades mas não investem na educação básica; estou cansada da sede voraz pelo poder, da corrupção; estou cansada de um país cujo povo se vangloria de poder ir ao shopping center, de adquirir aparelhos celulares, computadores, carros, mas que não luta por uma educação de qualidade; estou cansada de pagar pela gasolina mais cara do mundo em um país autosuficiente em petróleo; estou cansada de viver num país em guerra (não declarada), como se tudo estivesse às mil maravilhas; estou cansada de uma sociedade cujo sistema de saúde é tão precário que se morre tanto por falta de UTI como também por falta de atendimento básico; estou cansada de ouvir candidato(a)s sem clareza programática ou com propostas absurdas; estou cansada de eleitore(a)s fundamentalistas que não conseguem enxergar um palmo adiante do próprio nariz; estou cansada de uma falsa democracia que nos obriga a votar (ainda que seja nulo ou branco).

Mas, confesso, não estou cansada de viver, de lutar por dias melhores, de dar o melhor de mim na profissão que escolhi, de contribuir para que algum dia este país e o mundo em que vivemos sejam, de fato, para todo(a)s.

Estou cansada, sim, de PSDBs, de PTs e de partidos políticos cujos objetivos são meramente fisiológicos.

Mas eu estou cansada mesmo é de de ser um(a) do(a)s pouco(a)s que se cansam.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Os candidatos e a clareza programática

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Os candidatos à disputa presidencial Dilma Rousseff e José Serra começaram suas campanhas eleitorais com vistas ao segundo turno das eleições cometendo os mesmos erros da campanha anteior. Ou seja, não apresetando ao eleitorado seus programas com as propostas para o País.

Tucanos e petistas, representados por Serra e Rousseff, não dizem o que pretendem fazer para solucionar os problemas referentes à educação, à infraestrutura, à saúde etc. Continuam enrolando o povo brasileiro com conversas vazias e com supostas propostas que não contam com os esclarecimentos necessários para uma avaliação acerca da viabilidade ou não das mesmas.

Parece-me que o eleitorado brasileiro, quando não decidiu o pleito no primeiro turno, justamente reclamou dessa falta de clareza programática. Portanto, petistas e tucanos foram desafiados a jogar limpo com a sociedade e expor, de maneira objetiva e clara, os planos para livrar o País das mazelas que tanto entravam o seu desenvolvimento.

Chega de conversa mole, de discursos sofismáticos. O povo brasileiro quer propostas concretas. O Governo Lula não convenceu à maioria da população que merece ter continuidade. Foi esta mensagem que o eleitorado quis transmitir com os votos do primeiro turno.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Viva Renato Russo!












[...]Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos [...]

Comemorar a água podre
E todos os impostos[...]

Vamos celebrar a fome [...]

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o hino nacional
(a lágrima é verdadeira)

Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada [...]

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão [...]

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição